sábado, 26 de janeiro de 2013

Crítica - Django Livre (2012)


Título: Django Livre ("Django Unchained", EUA, 2012)
Diretor: Quentin Tarantino
Atores principais:  Jamie Foxx, Christoph Waltz e Leonardo DiCaprio 
Nota: 7,0

“Ainda que irregular, Tarantino continua entregando ótimas cenas e diálogos”

Em cada um de seus trabalhos, vemos o ótimo Quentin Tarantino revisitar algum gênero de filme. Por exemplo, em Jackie Brown ele homenageia os filmes blaxploitation; em Kill Bill ele homenageia os filmes B de artes marciais; em Bastardos Inglórios, ele homenageia filmes da 2ª guerra. E agora, em seu novo trabalho, Django Livre, Tarantino homenageia os “Western spaghetti” de diretores como Sergio Leone e Sergio Corbucci (este último filmou seu Django em 1966).

Porém este “faroeste” do diretor estadunidense é feita de maneira bastante inusitada: seu foco principal é comentar sobre a escravidão e racismo, em plena Guerra Civil nos EUA. Na história, o caçador de recompensas Dr. Schultz (Christoph Waltz) e o ex-escravo Django (Jamie Foxx) se tornam amigos e percorrem o sul do país para encontrar (e libertar) a sra. Django, ainda escrava. Sendo seus filmes acostumados a exibir cenas violentas, de humor negro, etc, a escolha temática de Tarantino alarmou o “clube dos politicamente corretos” antes mesmo da estréia.

Mas a resposta à estas preocupações já é a primeira grande qualidade de “Django Livre”. O roteiro nos apresenta a uma enorme variedade de violências, sejam físicas ou psicológicas, as quais os negros eram submetidos. Também nos apresenta vários tipos de agressores e escravos. É uma ótima aula de história. Só que surpreendentemente aqui Tarantino faz um de seus filmes mais sérios e visualmente menos violentos (pelo menos em comparação com seus anteriores).

Já a “imitação” dos spaghetti, com um filme mais lento, recheado de closes nos personagens, alternados com cenas de planos bem longos para estabelecimento do ambiente, também é bem digna de elogios. Aqui vemos um dos melhores trabalhos de Fotografia nos filmes de Quentin. Não a toa, recebeu indicação ao Oscar por isto.

Django Livre também conta com excelentes atuações. Principalmente Christoph Waltz e Samuel L. Jackson estão excelentes. Leonardo DiCaprio também vai muito bem, ainda mais se levarmos em consideração que ele protagoniza um tipo de personagem que não está acostumado: o vilão.

Ah, e sabem aqueles diálogos sensacionais, aqueles personagens memoráveis, e aquelas cenas tão surpreendentes que viram instantaneamente clássicas nas mãos de Tarantino? Tudo isto também está presente em Django. Porém, de forma inconstante. E é a partir daqui que comento os problemas do filme.

Um grande defeito da história é seu ritmo. Por contar com nada menos que três climax (?!) o passar dos longos 165 minutos de projeção torna-se cansativo durante os momentos “mornos”. E todo este tempo de duração poderia ser melhor aproveitado. Alguns diálogos e cenas são desnecessários, as vezes beirando a repetição; em contrapartida, não temos cenas para explicar como Django se tornou um atirador tão bom, ou como aprendeu a ler.

Toda aquela miscelânea de cultura cinéfila e pop que Tarantino sempre soube usar tão bem encontra enfim seus limites em Django Livre. Algumas associações simplesmente não funcionam. Por exemplo, a trilha sonora inclui black music (o que faz sentido dado o universo mostrado), e funciona muito bem quando temos músicas antigas, como Jazz, Blues. Mas quando são usadas músicas modernas, (principalmente Rap), o resultado é muito ruim. O estranhamento de gêneros é imediato.

Outra escolha ruim pode ser vista nas cenas de tiroteio. Estas sim são exageradamente violentas, e a quantidade de sangue é tão grande, as trapalhadas dos inimigos são tão exageradas, que aqui também somos “ expulsos” do mundo dos westerns devido a mais esta desfiguração temática.

E finalmente, talvez a maior incompatibilidade de todas, é o estilo de Tarantino frente ao tema da escravidão. O filme está bem longe de ser racista (pelo contrário), e como já citei antes, o diretor teve um enorme bom senso ao restringir em Django suas piadas e violência. Porém o assunto parece ser “forte e real demais” para o estilo dele. A violência está mais contida, mas ela existe o tempo todo e choca bastante, porque desta vez sabemos que não é ficção. As piadas são mais contidas, mas existem, e mesmo com várias piadas boas, é difícil rir, mais uma vez, porque sabemos que tudo pode ter sido real.

Devido seus altos e baixos, Django Livre não é um dos melhores trabalhos de Tarantino. Mesmo assim, seus “altos” são mais que suficientes para justificar o filme e deixá-lo consideravelmente acima da média. Nota: 7,0.

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