domingo, 20 de janeiro de 2013

Crítica – A Viagem (2012)


Título: A Viagem ("Cloud Atlas", Alemanha/EUA/Hong Kong/Singapura, 2012)
Diretores: Tom Tykwer, Andy Wachowski e Lana Wachowski
Atores principais: Tom Hanks, Halle Berry, Jim Broadbent, Hugo Weaving, Jim Sturgess, Doona Bae
Nota: 8,0

“Irmãos Wachowski retornam de maneira bastante digna”

Os irmãos Andy e Larry Wachowski chamaram a atenção do mundo - e de Hollywood - pela primeira vez em 1999, em seu segundo filme como diretores, intitulado "The Matrix". Não é exagero dizer que foi um filme revolucionário. Além de fazer o então desprezado gênero cyberpunk voltar a moda, suas cenas de ação em câmera ultra-lenta filmadas praticamente a 360º viraram objeto de imitação por muitos e muitos anos depois.

Mas os irmãos não provaram ser tão geniais nos trabalhos seguintes. Matrix 2 foi bem inferior ao primeiro, e Matrix 3 foi bem inferior ao segundo, quase estragando a trilogia como um todo. O pior, entretanto, ainda estava por vir: a versão live action estadunidense de Speed Racer foi horrorosa. Eu, por exemplo, nem consegui assistir o filme até o fim.

Então surgiu Cloud Atlas (no idioma original), que aqui no Brasil recebeu o estúpido nome de “A Viagem”. Era um filme onde eu tinha bastante esperança em que os Wachowski poderiam se recuperar se fossem bons mesmo. Afinal, tínhamos muitas mudanças envolvidas:

Pela primeira vez depois da fama, os irmãos não contaram com a grana dos grandes estúdios (aliás, o filme teve uma enorme dificuldade para ser financiado, sendo no final uma produção independente). Outra mudança para os Wachowski foi que desta vez estariam adaptando um livro (do escritor David Mitchell, lançado em 2004), e não criado seu próprio universo. E para completar, já entrando bem no mundo pessoal dos irmãos, Larry mudou de gênero e passou a se chamar Lana Wachowski. O anúncio da mudança ocorreu pouco antes da estréia de A Viagem em festivais, encerrando rumores que datavam anos, e foi feita pela própria Lana, que se mostrou bastante feliz e aliviada com a mudança.

Ou seja, tudo insinuava um positivo recomeço e eu estava bastante otimista. Felizmente meu otimismo se justificou: A Viagem é um ótimo filme e de longe o melhor filme dos irmãos desde o primeiro Matrix.

Filmado sob uma rara união de três diretores (além de Andy e Lana, também temos o alemão Tom Tykwer – do também muito bom "Corra, Lola, Corra”), A Viagem mostra em paralelo seis histórias distintas, cada uma em uma época diferente no tempo. As histórias de 1849, 2144 e 2321 foram filmadas pelos Wachowski, e as histórias de 1936, 1973, 2012 filmadas por Tykwer.

O começo do filme é bastante difícil de assistir. Seis histórias se alternando rapidamente na tela sem que conheçamos qualquer ligação entre elas. Aliás, sem que conheçamos qualquer personagem ou contexto envolvido. Porém, bem aos poucos, vamos entendendo o que está acontecendo. E passada a confusão, já estamos prontos para nos envolver e sofrer/torcer com cada drama apresentado.

Cada uma das seis narrativas tem seus personagens interpretados sempre pelos mesmos atores. Por exemplo, Tom Hanks. Em 1849 ele é um médico, em 1936 ele é um porteiro de prédio, em 1973 ele é um cientista, e etc. Cada ator não interpreta uma mesma “alma” ao longo dos tempos, mas sim, personagens realmente distintos. O que nos premia com atuações muito boas dos atores – principalmente Tom Hanks, Halle Berry e Jim Sturgess - e também nos permite ver atores ora interpretando um “vilão”, ora interpretando um “herói”.

Tecnicamente o flime é bem executado. Nada para grandes elogios, mas também nada para ser criticado. Os universos criados para as histórias no futuro são críveis e ao mesmo tempo discretos, sem grandes exageros. Talvez o maior destaque técnico vá para a história de 1973, onde o figurino é muito bom e uma fotografia escurecida, "cor de terra", nos transmite bem a sensação de “algo velho”.

Todas as histórias são de certa forma bem parecidas (até na maneira como são filmadas), e contam a vida de pessoas lutando contra algum tipo de injustiça. E devido esta semelhança, isoladamente alguns dos contos acabam não se tornando muito interessantes, fato este que é uma das poucas fraquezas do filme.

Entretanto, é quando juntamos a histórias que A Viagem mostra sua grandeza. Primeiro, se pensarmos em termos de perspectiva. Temos uma percepção precisa, acompanhando séculos de história, de como a maldade e a bondade humana sempre coexistem - sob as mais diversas modalidades - e sempre coexistirão.

Mas o grande trunfo do filme são mesmo as interligações entre os contos. “Tudo está conectado”, como diz o trailer. E está mesmo. O roteiro e a montagem são dignos de admiração. É curioso ver que passados mais da metade do filme, mal temos qualquer ligação entre as histórias. Cheguei a duvidar que tudo se conectaria. Mas no final, tudo se encaixa de forma magistral. Não posso dizer mais nada sob risco de estragar surpresas, mas o final é belíssimo, e não só faz tudo se conectar, como nos apresenta dois tipos distintos de conexão.

É muito bom ter os Wachowski de volta. Nota: 8,0.

3 comentários:

Luis Pelin disse...

Parabéns pela crítica, nobre amiguinho. O filme parece mesmo muito bom.

Ivan disse...

Obrigado pelos elogios, e pela audiência. :)

Assista, recomendo. Abs!

Ivan disse...

Gostaria de retificar meu texto. Disse que as histórias possuem dois tipos de conexão. É muito mais que isto.

Por exemplo, há um colar que aparece em pelo menos 4 das 6 histórias (deve aparecer nas outras duas, mas não percebi). Outro ligação (na verdade isto é mais uma semelhança estrutural), em cada história é mostrado alguém sofrendo uma queda.

E assim caminha o complexo e ótimo Cloud Atlas...

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