segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Crítica – RoboCop (2014)

Título: RoboCop ("RoboCop", EUA, 2014)
Diretor: José Padilha
Atores principais: Joel Kinnaman, Gary Oldman, Michael Keaton, Abbie Cornish, Jackie Earle Haley, Samuel L. Jackson

Ótimas idéias, não tão bem executadas

A história você já conhece: Alex Murphy (Joel Kinnaman) é um policial de Detroit que é seriamente ferido por bandidos, sendo as chances de sua sobrevivência quase nulas. A solução? Ser inserido em um corpo mecânico graças a um experimento da OmniCorp, uma gigantesca multinacional.

A premissa principal é a mesma, e a discussão “seria RoboCop máquina ou homem?” é tão boa e tão competente quanto a do filme original, de 1987. Porém as semelhanças entre a obra do brasileiro José Padilha e a do holandês Paul Verhoeven param por aí: o novo RoboCop é bem diferente de seu antecessor.

O RoboCop de Padilha é maior: estamos falando de política internacional. Se em 1987 a OmniCorp pensava em conquistar Detroit, aqui a empresa tenta conquistar os Estados Unidos. Segundo a história, robôs militares da OmniCorp “pacificam” outros povos ao redor do mundo, mas não conseguem vender seus robôs dentro dos EUA, pois existe uma lei que impede que máquinas militares operem no país. São bilhões de dólares que deixam de serem lucrados pela companhia. E é assim então que surge a idéia de RoboCop: fazer um “homem dentro da máquina” é a maneira que a OmniCorp vê para burlar a lei e colocar “máquinas” nas ruas.

A idéia é ótima, e muito bem explorada ao longo do filme. Porém fora as ideias centrais, há muita coisa ruim neste novo RoboCop.

A começar pelo elenco: como presidente da OmniCorp, a atuação de Michael Keaton é catastrófica. Canastrão ao extremo, parece estar o tempo todo declamando o roteiro. Uma das piores atuações que já vi. E tudo ao seu redor é ruim. As “reuniões maléficas para dominar o mundo” são constantes, clichês, e quebram totalmente o ritmo do filme.

RoboCop também mudou. Se por um lado é genial ver ele utilizando a invasiva tecnologia de câmeras e redes ao seu favor, por outro ele ganha status de “super-homem”, sendo extremamente superior aos seus inimigos, mesmo mecânicos, o que é um grande exagero. Para piorar, a nova armadura preta não convence sempre. Em alguns momentos ele parece um robô, mas em outros, parece ser apenas um cara dentro de uma armadura.

As cenas de ação também são ruins: são sempre com visão de primeira pessoa, parecendo um jogo de videogame. As cenas são muito rápidas e escuras, você simplesmente não consegue perceber de verdade o que está acontecendo. Você apenas ouve os tiros, vê os vilões no chão e imagina o que aconteceu...

Falta também a RoboCop um pouco de foco... o filme trata ao mesmo tempo de política internacional, corrupção na polícia, manipulação da mídia, questionamento da humanidade de RoboCop, grandes corporações, vingança, emprego da tecnologia ... ufa! Tantos assuntos diferentes abordados ao mesmo tempo acabam deixando o espectador (e até o próprio personagem) um pouco confusos. Esta variedade é ao mesmo tempo um grande defeito e uma grande virtude.

Fechando a parte de personagens e atuações, Gary Oldman atua bem, mas seu personagem Dr. Norton é irregular e contraditório. Já a esposa de Alex (interpretada pela bela Abbie Cornish), ao contrário do filme original, aqui encontra seu espaço.

Para fazer seu filme, Padilha trouxe mais compatriotas para trabalhar com ele: Lula Carvalho (Fotografia), Daniel Rezende (Edição) e Pedro Bromfman (Trilha sonora), cujas participações para mim foram respectivamente: boa, razoável e ruim.

Em sua estreia em Hollwood o diretor José Padilha entrega no final das contas uma obra com tantos altos e baixos que na média acaba se tornando um filme mediano. Uma pena que novidades tão boas como as que ele trouxe se percam em meio de tantos problemas de execução.

Me pergunto o quanto destes problemas são culpa do brasileiro ou inferência dos produtores. Boatos da interferência dos mesmos foram muitos e certamente ocorreram. Por exemplo, eles fixaram a censura em PG-13 (maiores de treze anos), limitando nosso diretor. Mas digo isto: o final do filme surpreende ao trazer uma forte crítica, não só ao governo dos EUA, mas ao Estados Unidos como um todo. Se os produtores deixaram uma crítica desta passar, talvez nem tudo seja culpa deles. Nota: 6,0.

8 comentários:

caio disse...

Gostei do filme, principalmente da forte critica aos EUA querendo pacificar outros países promovendo guerra fora de suas fronteiras. Me surpreendeu Hollywood fazer um filme que crítica a própria pátria americana.

Phybo disse...

Se é que me entende, como comentarista de cinema você da um bom jogador de bilhar em !! []'s

marcos.moreti disse...

Em primeiro lugar é difícil não comparar com o filme de 87, um clássico de outros tempos, quando podíamos assistir pessoas tendo a mão estourada, sendo metralhados e levando um tiro na cabeça em plena Sessão da Tarde. Porém, além da violência explícita e cenas 'massa véio', temos a crítica às grandes corporações (temática cyberpunk), desumanização do ser humano e personagens marcantes e uma música tema contagiante. Sem falar na sátira à sociedade, por meio dos comerciais absurdos.
Chega 2014 e após atrasos, notícias desencontradas, polêmicas de bastidores e trailers que não empolgaram, temos um novo Robocop. Com discussões mais diretas sobre política mundial, robotização do ser humano e utilização de drones para segurança da população. Um filme mais sério e, infelizmente menos empolgante.
Samuel L. Jackson mostrou muito bem o papel de uma mídia totalmente parcial, enquanto Gary Oldman é o melhor em cena, considerei seu personagem tridimensional, mas não contraditório.
A estética de videogame se explica pelo ponto de vista 'robótico' do personagem título e não me incomodou. Os pontos fracos do filme para mim são a família do Murphy, que tiveram participação maior mas pouquíssimo carisma e a falta de momentos marcantes, o próprio ápice do filme também não empolga tanto quanto deveria, os antagonistas não são nem tão odiosos nem tão amáveis.
Pelo seu misto de filme de ação com conteúdo: 7,5

Feustel disse...

No campo da matemática, conhecia o milhar, o milhão, o bilhão e até mesmo o trilhão. O bilhar só conhecia no campo dos jogos de boteco. Muito prazer.

Ivan disse...

Pois é. Também tive uma grande surpresa.

Ivan disse...

Mesmo sendo mesmo os tempos outros, não considero isto como desculpa. Bastava colocar maior limite de idade. Veja por exemplo o Rambo 4, é bastante violento e foi filmado recentemente. Valeu por enfim comentar aqui. :)

Ivan disse...

Para os Professores Pasquale da vida, corrigi o texto. Obrigado pelo toque.

Feustel disse...

"ProfessoreS PasqualeS".

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