domingo, 9 de novembro de 2014

Crítica - Boyhood: Da Infância à Juventude (2014)

Título: Boyhood: Da Infância à Juventude ("Boyhood", EUA, 2014)
DiretorRichard Linklater
Atores principaisEllar Coltrane, Patricia Arquette, Ethan Hawke, Lorelei Linklater
Passagem do tempo é a verdadeira protagonista desta incrível experiência cinematográfica

O diretor estadunidense Richard Linklater já demostrou anteriormente seu interesse pelos relacionamentos humanos através da passagem do tempo. Em sua trilogia formada por Antes do Amanhecer (1995), Antes do Pôr-do-Sol (2004) e Antes da Meia-Noite (2013), o diretor mostrou em  cada um dos três filmes o mesmo casal, formado pelos atores Ethan Hawke e Julie Delpy.

Mas agora, em Boyhood, Linklater leva este conceito em outro nível. Em um único filme, 12 anos de gravações (filmando 3 ou 4 dias por ano) mostram a vida do garoto Mason (Ellar Coltrane). Coltrane, que começou a filmar com apenas 6 anos, gravou suas últimas cenas já com 18. Acompanhar na tela seu envelhecimento é impressionante (e já se pode perceber uma fração disto com a foto acima). O mesmo processo acontece, claro, com os demais integrantes de sua família: sua mãe (Patricia Arquette), seu pai biológico (Ethan Hawke) e sua irmã Samantha (Lorelei Linklater, curiosamente, filha do diretor).

Não há exatamente uma história definida em Boyhood. O enredo é basicamente acompanhar cenas cotidianas de Mason ao longo de sua infância e adolescência. Seu início escolar, passando pelo colegial e depois, faculdade. Sua relação com cada um de seus padrastos. Seu primeiro emprego, sua primeira namorada. Nada é especialmente "marcante", "épico". Não acontece nenhuma tragédia, nenhum grande evento. Tudo é... trivial.

O que vale portanto, não são os acontecimentos em si, em sim a viagem através do tempo. E Richard Linklater faz questão de pontuar as cenas "historicamente", fazendo muitas citações com as mudanças externas ocorrendo neste período, que vai de 2002 a 2013. Então, vemos referências que vão da febre dos livros de Harry Potter a Crepúsculo, do Gameboy ao Wii, de Britney Spears a Lady Gaga, de Bush a Obama.

Tecnicamente muito bem executado, com belíssima fotografia, enquadramentos sempre pertinentes, Boyhood praticamente não possui trilha sonora, o que só reforça a sensação de estarmos vendo algo "real", e não uma fantasia. É admirável a consistência e coesão das gravações ao longo de 12 anos. Ou ainda, ver todas as transformações físicas (e de figurino) dos personagens de maneira compatível com seu envelhecimento e com suas respectivas histórias no filme.

Sendo também o roteirista, Richard Linklater adora discutir em seus filmes, através de diálogos, sobre "a vida, o universo e tudo mais". Porém não é o que ele faz aqui desta vez. Seu foco realmente são os fatos cotidianos, mostrando mais imagens do que diálogos. Por exemplo, ele nos mostra Mason recebendo de seus avós texanos, como presentes pelo aniversário de 15 anos, uma Bíblia e uma espingarda. Mas não há nenhum diálogo sobre as implicações disto. Os "debates" ficam todos na cabeça do espectador.

Mas Linklater não resiste o tempo todo e deixa alguns de seus diálogos filosóficos lá perto do desfecho do filme, onde ele critica por exemplo como estamos nos perdendo nas tais redes sociais, ou ainda, explicita a frustração vivida pela mãe de Mason, que consta que mesmo tendo passado por tanto na vida, ela já viveu mais da metade dos seus anos e mesmo assim não se sente realizada, e provavelmente, nunca se sentirá.

Ainda sobre o roteiro, vale a pena citar que ele também era revisto/escrito ano a ano, e que incorporou para si algumas experiências pessoais dos atores e do diretor. Por falar em atores, o filme traz belas atuações do trio principal Ellar Coltrane, Patricia Arquette e Ethan Hawke. Mas é para Patricia Arquette que dou meus maiores elogios.

Uma verdadeira "capsula do tempo", Boyhood é uma experiência única e imperdível para os amantes de cinema e de arte. Por outro lado, devido sua lentidão e longa duração (2h45min de filme), certamente não agradará aos espectadores que só apreciam no cinema os blockbusters de entretenimento. Nota: 8,0

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