quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Crítica - Interestelar (2014)

Título: Interestelar ("Interstellar", EUA / Reino Unido, 2014)
Diretor: Christopher Nolan
Atores principais: Matthew McConaughey, Anne Hathaway, Jessica Chastain, Mackenzie Foy, Michael Caine
Apesar do final problemático, filme é obrigatório para os fãs de ficção científica

O diretor Christopher Nolan abusou do mistério ao divulgar seu novo trabalho, Interestelar, sua primeira ficção científica espacial. Com uma sinopse vaga e traillers de tom épico que pouco revelavam da trama, a expectativa sobre o filme só aumentou. Enfim nos cinemas, Interestelar tem momentos grandiosos mas é irregular, fato que me fez deixar a projeção com sentimentos mistos.

O filme é dividido em três atos bem definidos. No primeiro, em um futuro apocalíptico, somos apresentados a um planeta Terra árido e tomado pela poeira, cuja capacidade de gerar alimentos diminui a cada ano. A humanidade está fadada a extinção. É uma recado ecológico / político que - especialmente para nós que vivemos em um seco sudeste brasileiro - não dá para ignorar.

Sob este cenário conhecemos Cooper (Matthew McConaughey) e sua família, que assim como todos os demais habitantes do planeta, se dedicam a agricultura, tentando minimizar o problema da fome. Também ex-engenheiro e ex-piloto, não demora muito para que ele e sua filha Murphy (Mackenzie Foy / Jessica Chastain) serem contatados pelo o que sobrou da Nasa. Lá eles encontram os cientistas Brand (Anne Hathaway) e seu pai, o professor Brand (Michael Caine), que convocam Cooper para liderar uma última e arriscada missão para o ser humano: a busca por um outro planeta habitável fora do Sistema Solar. Sendo mais longa que deveria, e abusando em alguns momentos do sentimentalismo, esta parte do filme não empolga muito, mas é eficiente e necessária para o espectador desenvolver empatia com os personagens.

Chega então o segundo ato, o ponto alto do filme, onde Cooper e sua tripulação saem ao espaço em busca de nossa nova casa. É neste ponto que o filme lembra razoavelmente 2001 - uma Odisséia no Espaço (1968), o qual Nolan disse ser fã e citou como uma de suas inspirações para Interestelar.

Felizmente, Interestelar não é tão lento como 2001, mas a maneira com que foi filmado tem várias semelhanças: belíssimas cenas espaciais, o cuidado em apresentar uma viagem o mais "real" possível, sempre utilizando os conhecimentos científicos mais atuais como base, Isso sem contar algumas homenagens visuais / de design que são evidentes (o formato dos robôs remetem aos monólitos de 2001, por exemplo). Além de tudo isto, os dois filmes compartilham muitos temas comuns: o futuro da humanidade, a fragilidade do homem perante o espaço, o sentido da vida, o contato com povos extraterrestres, o uso da inteligência artificial, etc.

Esta parte do filme reflete o que há de melhor na ficção científica, e certamente agradará em muito os fãs. É uma pequena aula de astronomia. Assuntos como buracos negros, teoria da relatividade, tudo é explorado: principalmente, o efeito colateral que faz com que envelheçamos bem mais devagar sob alta velocidade ou alta gravidade, e as consequências dramáticas que isto causa aos personagens.

Até que chegamos ao terceiro e último ato. Christopher Nolan tem duas características marcantes para seus roteiros: uma, a de trabalhar com tramas paralelas. Ele repete isto em Interestelar e a faz de maneira magistral, usando este recurso para criar duas sequencias de tirar o folego.

E outra de suas características é criar um roteiro inteligente, cheio de pequenos mistérios, onde enfim, ao final, temos uma grande revelação que explica tudo o que nos intriga. Também temos isto aqui, mas neste ponto Nolan falha duplamente. Primeiro, porque ele exagera nas "dicas" ao longo da história, e com isto eu não fiquei surpreso com a "revelação final", já a tinha previsto. Mas principalmente, o problema não é o QUE ele revela, e sim COMO ele revela, de uma maneira forçada, absurda (diria impossível) e piegas (para mais detalhes, leiam meu "P.S." ao final do texto).

A conclusão da história, portanto, é uma grande contradição. Se por um lado, no desfecho, temos o prazer intelectual de ver que tudo o que o roteiro mostrou se encaixa com extrema perfeição, peça por peça, por outro lado temos a decepção de ver que Nolan simplesmente ignora a abordagem racional exibida no filme até então.

Em termos técnicos, Interestelar agrada. Ele é visualmente inferior que Gravidade (2013), porém mesmo assim as cenas espaciais são bonitas, principalmente no formato iMax, para o qual o filme foi feito. Além disto, vale a pena ressaltar o intenso uso de trilha incidental composta por Hans Zimmer, que causa dois efeitos: o aumento da sensação de angústia / desconhecido, e também, uma sensação de que nossa mente está "viajando", como se estivéssemos fora de nossa realidade.

Encerrando, o filme ainda nos presenteia com atuações muito boas, principalmente de Matthew McConaughey (o cara não para de mandar bem), Jessica Chastain e... do ator que interpreta o misterioso Dr. Mann, que não vou revelar aqui quem é para não estragar a surpresa.

Com altos e baixos, Interestelar perdeu a oportunidade de ser um marco nos filmes de ficção científica, mas mesmo assim ele tem momentos marcantes que atingem este status. Apesar do final problemático, pequenos furos de roteiro e alguns personagens caricatos, os conceitos científicos e filosóficos que o filme apresenta são tão interessantes que elevam seu resultado final.

Certamente Interestelar será comentado por anos no mundo da ficção espacial, e exatamente por isto, para os fãs do gênero é obrigatório assisti-lo. Já para quem não é fã, também vale a pena conferi-lo já que o filme é bom. Mas uma importante ressalva: a história é bem complexa e requer um esforço considerável para assisti-lo: são quase 3 horas de duração, onde é necessário prestar bastante atenção nas várias explicações ao longo da história para não perder nenhum detalhe. Nota: 7,5





PS: "Os problemas do desfecho" (alerta: só leiam este parágrafo DEPOIS de assistir o filme, ele revela partes importantes do fim). A conclusão é falha porque não é possível um humano entrar em um buraco negro sem morrer esmagado muito antes de alcançá-lo, porque não dá para a Murphy ter concluído sozinha sobre quem era "o fantasma", porque tudo o que é dito sobre o "amor" é forçado e artificial demais, porque ela nos leva a dois paradoxos temporais que poderiam ser melhor resolvidos, e finalmente, porque o acesso à 5a dimensão é um Deus Ex Machina dispensável. Curiosidade: perceberam que quando Cooper retorna ao sistema solar, já séculos no futuro, a humanidade ainda não se mudou para o novo planeta? E mais: nem precisaria, pois já está salva e espalhada pelo sistema solar em grandes estações. Porém a coitada da Dra. Brand continua lá, sozinha no espaço, com a missão de povoar o planeta com os embriões humanos. Será que um dia a humanidade toda se mudará para lá... ou será que a Dra. Brand foi vítima da maior pegadinha da história de nossa civilização? Fica a pergunta. :)

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