sábado, 31 de janeiro de 2015

Crítica - Birdman ou (a Inesperada Virtude da Ignorância) (2014)

Título: Birdman ou (a Inesperada Virtude da Ignorância) ("Birdman", Canadá / EUA, 2014)
Diretor: Alejandro González Iñárritu
Atores principais: Michael Keaton, Zach Galifianakis, Emma Stone, Edward Norton, Naomi Watts, Andrea Riseborough
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=n7kPKVxuz6k
Nota: 8,0


Incomum no texto e forma, um belo filme que poderia ter sido ainda melhor

Birdman é um filme... diferente. Primeiramente, diferente em sua história. Ok, não é algo original, mas é um tema não tão explorado: os bastidores de uma produção teatral. Ou melhor, não é isto. São os dilemas, as dificuldades de um ator de ação dos cinemas tentando ser produtor / escritor / ator na Broadway. Mais ainda: um retrato de que os atores necessitam ser amados, gostam de ser admirados, ou então, que querem ficar marcados na história por ter "feito arte".

A história é exatamente esta: Riggan (Michael Keaton) foi um grande sucesso como ator de super-herói nos cinemas, sendo o personagem Birdman. Vinte anos depois de seu último filme, ele tenta voltar ao sucesso, agora no teatro. Angustiado por não ser reconhecido por seu talento, a sombra de Birdman o atormenta: seja pelo desprezo que os críticos de teatro têm por ele, seja pelos "surtos" que ele sofre, ouvindo vozes - e até tendo visões - de seu antigo alter-ego, misturando fantasia e realidade.

Birdman também é diferente em sua forma. Principalmente, por abusar dos planos-sequência (cenas filmadas ininterruptamente, sem cortes). Na verdade, o diretor mexicano Alejandro Iñárritu tenta apresentar seu filme como uma sequência só. Vale alertar que Birdman não é composto verdadeiramente de um único plano-sequência, como foi o filme Arca Russa (2002). Ele está muito mais próximo de Festim Diabólico (1948), de Alfred Hitchcock, que usou vários planos-sequência unido-os com "cortes imperceptíveis". O genial Hitchcock não tinha os recursos Iñárritu teve. Com isto, se no filme do diretor britânico os cortes não eram tão "imperceptíveis" assim, aqui em Birdman este efeito é bem mais eficiente graças a computação gráfica. Temos a impressão de estarmos realmente diante de 2 horas de filme sem cortes. Uma novidade apresentada é a inclusão de elipses dentro dos planos-sequência.

A câmera, que segue os atores conforme os mesmos andam  pelos corredores indo de um cenário para outro, também foca bastante em closes, mostrando um olhar mais intimo dos personagens. E a fotografia é belíssima, primorosa, não a toa indicada ao Oscar. O nome por trás deste espetáculo visual é o também mexicano Emmanuel Lubezki, responsável, por exemplo, pela fotografia de Gravidade (2013), A Árvore da Vida (2011) e Filhos da Esperança (2006), todos estes também um deleite para os olhos.

Então temos um bom roteiro, com diálogos inspirados, e uma técnica de filmagem difícil, interessante, de qualidade. Tudo para fazer de Birdman um grande filme. Entretanto, infelizmente, Iñárritu comete alguns erros em ambos os quesitos.

Na parte técnica, pelo menos a primeira meia hora do plano-sequência chega a causar vertigem, de tanto que a câmera gira e se mexe em torno dos personagens. Passado este começo, então os planos se estabilizam bastante, tornando tudo mais agradável. Já a palavra que define a trilha sonora de Birdman é: incômodo. Todos os momentos que Riggan se encontra em estado de tensão, ouvimos no fundo uma mesma sequência de bateria, toda descompassada. É a mesma sequência, o tempo todo, irritante ao extremo. E pior: talvez por deslize do diretor, algumas cenas onde se ouve a bateria não contam com Michael Keaton na tela, o que é no mínimo estranho.

Quanto ao roteiro, se o mesmo possui bons diálogos, várias situações engraçadas e debates interessantes, seu final é bem mal executado; ou melhor, ele é pretensioso e desnecessário. Se o filme tivesse 5 minutos a menos, teria sido muito melhor. Em meu "PS", ao final do texto, explico o que não gostei do fim.

Birdman foi indicado a 9 Oscars, Dentre eles o de Melhor Filme, o de melhor Ator (Michael Keaton), o de melhor Atriz Coadjuvante (Emma Stone) e o de melhor Ator Coadjuvante (Edward Norton).

Emma está bem, mas acho a indicação exagerada devido a participação dela ser pequena. Edward Norton, este sim está muito muito bem. É a grande atuação do filme e rouba a cena. Mas se Norton é quem chama a atenção, o que dizer do protagonista, Michael Keaton? A atuação dele é irregular. Sim, ele tem alguns momentos excelentes, bastante admiráveis, mas também em várias cenas ele parece estar apenas "declamando", um verdadeiro canastrão. Portanto, a indicação ao Oscar de Keaton pela atuação é para mim questionável. Porém, pelo seu "esforço", a indicação é compreensível: decorar todas as falas e atuar sem poder errar nos enormes planos-sequência do filme não é uma tarefa fácil.

Ainda sobre as indicações do Oscar: eu havia ficado surpreso que a Academia tenha prestigiado tanto um filme que flerta com o assunto super-heróis, que eles tanto menosprezam. Mas após assistir Birdman, acho que entendi a escolha dos votantes: é que se trata de um filme metalinguístico. Fala, por exemplo, da indústria do cinema e da indústria do teatro, do cinema versus teatro, dos filmes blockbuster versus filmes "de conteúdo", de como uma peça é montada, fala sobre críticos e mídia, e finalmente, há bastante mistura entre a história com o mundo real: assim como o personagem Riggan / Birdman, Michael Keaton também estrelou Batman cerca de 20 atrás e "sumiu" depois disto; Edward Norton interpreta um problemático ator baseado em uma versão exagerada dele mesmo. E há outros exemplos deste tipo ao longo da produção.

Resumindo, Birdman ou (a Inesperada Virtude da Ignorância) é um filme tecnicamente muito muito bom, com roteiro bastante interessante, com ótimos diálogos e conflitos. e tinha a chance, por suas qualidades, de ser um filme memorável. Entretanto, devido ao seu primeiro ato e ao seu ato final - ambos problemáticos - Birdman falha no fazer História. Mesmo que bastante impressionante, o máximo que consigo dar para ele é dar uma Nota 8,0.


PS: sobre os últimos 5 minutos do filme (NÃO leiam aqui antes de tê-lo assistido, é spoiler): Riggan tenta se matar, ou apenas chamar a atenção com seu tiro? A resposta, para mim, é a primeira opção, principalmente pela "estranha frieza" do personagem, ressaltada pelo comentário de sua ex-esposa. Sendo assim... o cara atira apenas no nariz? Implausível. Finalmente, durante o filme todo são evidentes as "dicas" de que os "super-poderes" de Riggan são apenas delírios... até que a cena final  é a única verdadeiramente ambígua neste quesito. Em meu entendimento, a resposta é que a cena também é um delírio... mas precisava lançar esta dúvida? Bastante desnecessário. Para mim Iñárritu optou desonestamente por este final apenas para tornar seu filme mais falado e discutido, mesmo recurso utilizado por Nolan em A Origem, o qual desaprovo em ambos os casos.

Atualizado em 15/02/15: após refletir, subi a nota do filme de 7,0 para 8,0 e acrescentei algumas informações novas ao texto.

Um comentário:

Unknown disse...

Eu gostei da história desse filme, eu achei muito criativa. É um dos melhores filmes de drama, tem uma boa história, atuações maravilhosas e um bom roteiro. O elenco foi o elemento que eu mais gostei. É um dos filmes de Michael Keaton que eu mais gostei até agora além do filme sobre McDonald's que estrenou no ano passado que também foi bom. Vale muito à pena, é um dos melhores do seu gênero. Além, tem pontos extras por ser uma historia criativa. O filme superou as minhas expectativas, realmente o recomendo.

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