quinta-feira, 21 de maio de 2015

Crítica - O Sal da Terra (2014)

Título: O Sal da Terra ("The Salt of the Earth", Brasil / França / Itália, 2014)
Diretores: Wim Wenders, Juliano Ribeiro Salgado
Atores principais: Sebastião Salgado, Wim Wenders, Juliano Ribeiro Salgado
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=djTFzYLiAw0
Nota: 7,0

Conteúdo e mensagem são os pontos fortes desta biografia sobre Sebastião Salgado que precisa ser conhecida por todos

Dentre todos os indicados ao Oscar 2015, havia entre eles um pouco de Brasil: O Sal da Terra, produção franco-brasileira indicada ao prêmio de Melhor Documentário, conta a trajetória do grande fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado. Dirigido pelo consagrado diretor alemão Win Wenders e também por Juliano Salgado, filho de Sebastião, o documentário não levou a estatueta, mas mesmo assim não deixa de ser uma obra obrigatória para quem se interessa por história e fotografia.

O Sal da Terra pode ser dividido em três temas. O primeiro, é a própria biografia de Sebastião. Sua infância, como virou fotógrafo, etc. Este trecho conta com vídeos caseiros de Sebastião e são narrados ora por Win Wenders, ora por Juliano.

O segundo tema é o magnífico exemplo dado por Sebastião e sua esposa, Lélia, ao reflorestar nada menos de 600 hectares na já árida e abandonada fazenda da família em MG. Quinze anos atrás, o que era praticamente um cerrado onde não se chovia, hoje temos uma mata exuberante repleta de animais, pássaros, e principalmente... nascentes de água. Em plena seca que vivemos atualmente no Sudeste, este exemplo da família Salgado PRECISA ser conhecido e imitado por todos.

Finalmente, o terceiro e principal tema são os ensaios fotográficos de Sebastião Salgado. Suas fotos são apresentadas lentamente na tela enquanto o brasileiro conta os "causos" de como as mesmas foram tiradas, o que elas retratam, o que elas representam. É isto que vemos na grande maioria do documentário: fotos sendo exibidas, uma a uma, e Sebastião comentando.

Famoso por fotografar apenas em preto e branco, o trabalho de Sebastião Salgado é de uma beleza e sensibilidade quase inacreditáveis. Ao longo de décadas, o brasileiro fotografou o melhor e o pior do planeta... desde povos "isolados" como índios e aborígenes, como também fome, doença e guerras na África; os piores desastres ecológicos, mas também, as mais belas fotos da natureza. É uma verdadeira aula sobre a humanidade. Sobre a Terra. Aula triste, aliás, na maioria do tempo. É quase impossível não se emocionar diversas vezes ao longo da projeção com as fotos apresentadas.

Como conteúdo, como História, como mensagem para a humanidade, O Sal da Terra é praticamente irretocável e deveria ser assistido por todos. Entretanto, em termos cinematográficos, O Sal da Terra está longe de ser bem executado.

Há vários problemas em o O Sal da Terra como documentário. O principal deles é que o mesmo é exageradamente "careta", diria até monótono. Estruturalmente, a história é apresentada de maneira cronológica, sem nenhum dinamismo, em uma tom até "frio". O contraste chega a impressionar: ao mesmo tempo que as fotos "jorram" sentimentos, a forma com que elas são apresentadas carecem de emoção.

Contribui para este efeito a maneira com que Sebastião conta suas histórias: de maneira lenta, calma, uniforme. Ele não se comove enquanto fala. Ou o fotógrafo já contou suas histórias tantas vezes e por isto não se abala mais com elas, ou então, sua voz foi obtida de maneira "artificial", com ele simplesmente lendo um texto já pronto. Eu vi uma entrevista recente de Salgado no programa do Jô e, baseado nela, entendo que é bem mais provável que o que aconteceu foi a segunda opção.

Também atrapalha o fato de Win Wenders exagerar no foco à pessoa de Sebastião Salgado. Além de repetitivos elogios parciais "de fã", o diretor opta por exibir o rosto do fotógrafo (em tamanho gigante, via close) muitas e muitas vezes ao longo do filme. Isto trás impactos ruins: torna o filme mais cansativo, e de maneira errada, acaba "louvando" nestes momentos mais a pessoa do que seu trabalho, sua mensagem, seu legado.

A trilha sonora, muito bonita, é bem homogênea ao longo da projeção. Mas se esta característica agrada no começo, com o passar do tempo é mais um fator que contribui para a monotonia com que o documentário foi formatado.

Contando com uma incomum combinação de conteúdo com enorme qualidade e direção ruim, os problemas com O Sal da Terra não comprometem, no final das contas, com o objetivo do documentário: nos apresentar Sebastião Salgado e seu maravilhoso trabalho. Trabalho este que deveria ser conhecido por qualquer pessoa deste planeta. E assistir O Sal da Terra deveria ser só o começo. O filme mostra apenas uma pequena fração de tudo o que este grande artista fotografou. Nota: 7,0

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