quinta-feira, 4 de junho de 2015

Crítica - Chappie (2015)

Título: Chappie ("Chappie", África do Sul / EUA / México, 2015)
Diretor: Neill Blomkamp
Atores principais: Sharlto Copley, Dev Patel, Ninja, Yo-Landi Visser, Hugh Jackman, Sigourney Weaver
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=3YJdyU7S_cA
Nota: 5,0

Apenas o carisma do robô protagonista salva neste péssimo filme como Ficção Científica

O jovem diretor sul-africano Neill Blomkamp estreou nos longa-metragem fazendo barulho: com seu Distrito 9 (2009) ele conseguiu impressionantes 4 indicações ao Oscar, sendo uma delas a de Melhor Filme. Depois, vieram Elysium (2013) e Chappie (2015). Os três filmes apresentam várias características comuns: Neill também nos roteiros, são filmes de Ficção Científica, apresentam boa fotografia e efeitos especiais, muitas cenas em grandes centros urbanos degradados, e contam com o ator Sharlto Copley como um dos principais protagonistas. Mas a relação mais importante entre as três obras de Blomkamp não são suas similaridades, e sim, o fato de que cada novo filme é bem inferior ao anterior. Neill Blomkamp conseguiu rapidamente passar de diretor/escritor promissor a diretor/escritor bem questionável.

Na história do robô Chappie (Sharlto Copley nas vozes), o protagonista nasce no meio de uma disputa entre dois cientistas. Enquanto Deon (Dev Patel) é entusiasta da Inteligência Artificial, Vincent (Hugh Jackman) entende que a IA é bastante perigosa, sugerindo então como sugestão definitiva ao combate ao crime o uso de grandes máquinas controladas remotamente por um cérebro humano conectado.

Chappie é descrito como sendo a primeira inteligência artificial capaz de "desenvolver consciência". E quando nasce, nasce com "a mente vazia". Mesmo assim seu criador Deon afirma que em dois ou três dias o robô aprenderia sozinho a falar e entender os humanos.

E o que acontece, na prática, é que após três dias Chappie não só aprendeu a falar, como já desenvolveu conceitos de certo e errado, aprendeu até a pintar! E tudo isto sozinho, sem ninguém ter ensinado. E não, ele não estava conectado a nenhum lugar para poder "baixar" estas informações, ele simplesmente aprendeu com o que viu e ouviu. Parafraseando (e invertendo) certa propaganda da TV: "não é tecnologia, é magia!".

Em resumo, nada, absolutamente nada do filme é aproveitável como ficção científica. Debate entre vida artificial e biológica? Esqueça, o roteiro não tem idéia do que é isto. O processo de aprendizagem de Chappie não faz o menor sentido. Exemplo: imediatamente após o robô aprender suas 5 primeiras palavras, Dean faz ele jurar que nunca irá cometer crimes. E Chappie entende perfeitamente o que lhe foi dito, isto sem mesmo tendo ouvido um verbo antes!!!

E não é só na ciência que o filme derrapa. Repleto de furos e chichês, o comportamento e motivação dos personagens humanos - principalmente de Dean - também são irreais. E nem vou entrar no mérito dos "bandidos" do filme, que conseguem alternar em questão de segundos entre um comportamento de "malvado assassino" para "bondoso paternal".

O que se salva então de Chappie? Fotografia e efeitos especiais são bons... e nosso simpático protagonista possui bastante carisma. Seu comportamento bastante infantil faz com que nós olhemos Chappie como se ele fosse uma criança. Uma criança jogada em um mundo violento, onde ela é diferente de todos, e odiada e temida por todos também. Bastante clichê, certo? É mesmo. Porém, ainda assim, você sofre junto com Chappie, torce o tempo todo por ele. Você sente tanta empatia pelo robô que apesar de todos os defeitos o filme chega a ser aceitável. Isto é Chappie: péssimo como Ficção Científica, mediano como filme de Ação/Aventura.

No fundo, Chappie ser ruim não foi surpresa para mim. Dois anos atrás eu estava todo empolgado para assistir Elysium e saí bem decepcionado. Desta vez eu desconfiava do pior desde o começo: ao assistir os trailers, já de cara desgostei do monte de clichês que Chappie contém. E pior, agora que já assisti o filme, sei que dos 3 trailers oficiais que saíram, apenas o segundo (o qual trago como link no começo da crítica) é razoavelmente fiel a história que ele traz. Não há nada de "jornada de aprendizado" (clipe 1) e "salvar a humanidade" (clipe 3) em Chappie. Isto sem falar que cerca de um terço das cenas e diálogos apresentados não aparecem na versão final que chegou aos cinemas. Das duas uma: ou os trailers tentam enganar propositalmente o espectador, ou nem mesmo Neill sabia que caminho seguir. Qualquer que seja a resposta, nenhuma delas é um bom sinal.

Foram necessários apenas dois filmes para que Neill Blomkamp perdesse sua aura de "diretor promissor". Ainda tenho alguma esperança nele na direção. Já nos roteiros... não. A menos que ele mude de gênero, porque em termos de Ficção Científica ele gastou absolutamente tudo que sabia em Distrito 9. Não sobrou mais nada. Nota: 5,0

PS: apesar do que escrevi na conclusão do meu texto, infelizmente já sabemos que ele VAI continuar na Ficção Científica. Ele é o diretor / escritor atualmente escalado para tocar o reboot da franquia Alien. Triste. :(

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