quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Crítica - Que Horas Ela Volta? (2015)

Título: Que Horas Ela Volta? ("Que Horas Ela Volta?", Brasil, 2015)
Diretor: Anna Muylaert
Atores principais: Regina Casé, Michel Joelsas, Camila Márdila, Karine Teles, Lourenço Mutarelli
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=Dffs46VCJ_g
Nota: 8,0
Brilhante, ao expor diversos dramas sem ser piegas e com poucos clichês

Que Horas Ela Volta? estreou nos cinemas há um mês. Em muitos lugares, até saiu de cartaz. Mas... voltou! O novo filme da diretora e roteirista Anna Muylaert (Durval Discos, Castelo Rá-Tim-Bum, O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias) teve uma justíssima sobrevida graças ao boca-a-boca positivo do público, e também ao destaque dado pela mídia nacional, que mostra notícias sobre a boa recepção do filme no exterior, as quais se incluem os festivais de Berlim e Sundance onde recebeu prêmios importantes.

Na história, Val (Regina Casé) deixa sua casa e sua filha pequena Jéssica (Camila Márdila) em Pernambuco e parte para São Paulo em busca de emprego. Trabalhando há mais de 10 anos como babá e empregada doméstica para os patrões Bárbara (Karine Teles) e Carlos (Lourenço Mutarelli), Val não vê a filha desde então. Então, um fato muda tudo: Jéssica vem a São Paulo para prestar vestibular e morar com a mãe. O fato de Val morar em um quartinho na mansão dos patrões é o estopim para vários conflitos posteriores.

Ao contrário do que a sinopse acima induz, Que Horas Ela Volta? não trata apenas das questões de diferenças de classes, da hipocrisia dos ricos e da complicada relação empregado-patrão. Graças a um roteiro brilhante de Muylaert (no qual trabalhou por vários anos), o filme também aborda famílias disfuncionais, diferenças entre gerações, traição, ascensão social, regionalismo... há até espaço para umas cutucadas no atual custo de vida brasileiro.

Todos estes assuntos são colocados sem sentimentalismo e quase sem clichês. O "quase" precisa ser empregado devido aos personagens dos patrões: caricatos; mas que ainda assim, não comprometem o filme.

Que Horas Ela Volta? usa muitos planos fechados, ambientes internos, mas sem o uso de closes. Desta maneira temos uma estudada cumplicidade sobre tudo o que acontece: conseguimos observar ao mesmo tempo não apenas o comportamento de Val e sua filha, como também de todos os integrantes da casa, até os outros empregados. O pouco uso de trilha sonora também contribui com a sensação de realismo trazida pelo filme.

Regina Casé - que dividiu com Camila Márdila o prêmio de melhor atriz dramática em Sundance - de fato está muito bem. Porém, não é uma atuação espetacular. De qualquer forma, seu trabalho é admirável: conhecida nacionalmente pelo esteriótipo de "comediante nordestina" ela foge desta sua antiga persona com maestria e carisma. Aliás, por falar em comédia, Que Horas Ela Volta? tem suas (muito boas) pitadas de humor, mas não se enganem, este é um filme povoado basicamente de dramas.

Em tempos onde o brasileiro sofre de má-estima devido as péssimas notícias sócio-econômicas que infestam os noticiários, ver um filme 100% nacional tão bem escrito é um alento. O Brasil continua produzindo pessoas e materiais inspiradores. Vamos acreditar mais em nós mesmos! Nota: 8,0

PSQue Horas Ela Volta? já nasceu favorito a ser nosso filme candidato para o Oscar 2016. E eu diria que é um dos filmes com maiores chances de vitória em anos! Vai levar? Aí, admito, será difícil. Não por que lhe falta qualidade. Mas por que julgo que o tema escolhido já está um pouco desgastado entre a Academia. Espero estar errado!

PS 2: Este é meu post 200 no blog. Fico feliz que este marco tenha acontecido com um filme tão bacana!

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