sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Crítica - Ponte dos Espiões (2015)

TítuloPonte dos Espiões ("Bridge of Spies", EUA, 2015)
Diretor: Steven Spielberg
Atores principais: Tom Hanks, Mark Rylance, Alan Alda, Amy Ryan, Scott Shepherd
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=I-G9WsuVv-A
Nota: 7,0
Outro bom filme histórico entregue por Spielberg

Steven Spielberg retorna ao assunto guerra, porém de maneira menos explícita. Saem as batalhas e a violência e entramos no mundo de espiões na Guerra Fria no final dos anos 50 / início dos anos 60. Na história de Ponte dos Espiões, um velho espião russo de nome Rudolf Abel é capturado agindo em solo estadunidense. Ele vai a julgamento, e para defendê-lo é convocado o advogado James B. Donovan (Tom Hanks). Posteriormente, Rudolf é sugerido como moeda de troca por um espião americano capturado na União Soviética, e Donovan parte para a Alemanha participar das negociações.

O filme se divide então em duas partes bem distintas, e igualmente interessantes. Na primeira, temos um filme de tribunal. Porém, longe de enfadonhos debates jurídicos, este ato é contado sobre o ponto de vista cotidiano de Donovan. Mais ainda, é a luta de um indivíduo honesto contra toda uma sociedade preconceituosa. Uma boa e corajosa maneira de vender o american way of life fazendo auto-críticas e sem exagerar no patriotismo.

Na segunda parte, a tensão aumenta bastante, e aí temos a jornada de James agindo literalmente sozinho em Berlim, justamente no mesmo momento em que o Muro está sendo construído.

Se você gosta de História e espiões, certamente vai gostar bastante de Ponte dos Espiões. O fato de se basear em fatos reais, ter diálogos inteligentes e bastante bem humorados (roteiro dos irmãos Coen), contar com ótimas atuações e personagens de Tom Hanks e Mark Rylance; tudo isto é bastante agradável.

Ponte dos Espiões é, portanto, um bom filme. Mas poderia ser melhor se Spielberg não fosse tão piegas e tão exagerado. Exemplos? Nos discursos mais bonitos de Donovan, textos bastante inspirados, eis que surge aquela trilha sonora altíssima "épica" dizendo para o espectador burro que agora é momento de se emocionar. Em uma bela tomada em que se percorre o muro de Berlim sendo montado tijolo a tijolo e separando instantaneamente famílias e amigos, na sequencia vem uma cena de "como os soldados alemães são maus". Ou ainda, um desfecho de final feliz não basta para o diretor americano. São dois. Um mais piegas que o outro.

Ponte dos Espiões é mais um bom filme entregue por Spielberg, feito para agradar qualquer tipo de público adulto. Porém mais uma vez o diretor perdeu a chance de fazer um filme marcante. Desde 2005, com seu Guerra dos Mundos, todos os seus filmes (com exceção de Munique, também de 2005), possui exatamente os mesmos problemas que apontei no parágrafo anterior. É por isto que Steven não entrou na minha lista de Diretores Preferidos da Atualidade e continuará não entrando. Nota: 7,0

PS: na foto deste post vemos Steven Spielberg, Angela Merkel e Tom Hanks na frente da ponte-título do filme.

3 comentários:

Anônimo disse...

Esse post eu tenho que comentar. Na minha opinião, você pode assistir um filme de um diretor que já fez tantos filmes como o Steve Spielberg tentando achar as suas "falhas", mas o fato, e as pessoas esquecem, é que a maioria de seus dramas possuem trilhas manipulativas e finais felizes, até os considerados melhores como Resgate do Soldado Ryan, Lista de Schindler, Minority Report e Cor Púrpura (até o seu favorito Gravidade possui essas características). Ou, você pode simplesmente assistir o filme e deixar ser manipulado. Eu gosto de filmes frios onde o espectador gera sua própria interpretação, mas qual é o problema de gostar de um final feliz como o desse filme e de Lincoln? E mesmo assim, para um filme do Spielberg, achei esse até mais contido do que seus demais. Porém quando assisti esse filme, não foi essas falhas que me chamaram atenção e sim como o diretor é capaz de construir tensão como nenhum outro. Pouquíssimos diretores seriam capazes de criar uma cena tão boa quanto a da abertura do filme, ou a do avião sendo bombardeado (ou a perseguição de as aventuras de Tintim, ou a cena que o cavalo corre entre os campos de batalha em cavalo de guerra). Quando eu vou assistir um filme do Spielberg, eu vou esperando isso, e quando ele acerta, é muito mais forte do que essas pequenas falhas. Com as suas manipulações ele deixou o filme muito mais interessante para mim.

Ivan disse...

Uaaaa! Que honra seu post em meu blog. :)

Vamos lá. Eu não "tento" achar falhas no Spielberg. Pelo contrário, reajo a elas. Por exemplo, no momento em que Donovan apresenta seu caso na Suprema Corte, eu comecei a me emocionar, me emocionar e... aí meus ouvidos ouviram a deplorável musiquinha épica e isto cortou tanto o clima pra mim que nem me importei com o resto do discurso.

Sei que você defende com unhas e dentes o Spielberg rs, e reafirmo com toda sinceridade que não torço contra ele. Sou fã do Spielberg, sempre vou torcer por ele. Alguns dos filmes que mais diverti na vida são dele. A franquia de cinema que mais gosto (Indiana Jones) é dele. Fora os filmes "sérios" que ele fez, que são incríveis também.

As falhas que aponto em meu texto não fazem de Spielberg um diretor ruim. Em nenhum momento digo isto. Mesmo com suas falhas, ele continua um diretor acima da média. Ele continua filmando sequencias incríveis (como você mesmo diz); continua sabendo construir tensão (embora eu ache que ele não faça isto bem neste filme, o fez bem nos anteriores... por exemplo, como eu já disse na crítica de Jurassic World, a tensão colocada pelo diretor Colin Trevorrow é um lixo perto da tensão criada por Spielberg em Jurassic Park).

"Trilhas manipulativas" e "finais felizes" não são ruins por si só. Ruins são seus excessos, que infelizmente, começaram a aparecer na última década da carreira do diretor. Antes ele era mais equilibrado e comedido.

Finalmente, as "falhas" que apontei não tornam o filme ruim, dei nota 7,0... isto é uma nota muito boa! Elas simplesmente impediram que eu dê ao filme uma nota maior.

Abraços!

Unknown disse...

Este filme foi muito interessante. Ponte dos Espiões marca o retorno de Steven Spielberg à boa forma e ao modo mais gostoso de se fazer cinema: com criatividade e amor pela arte. Como sempre, Hanks traz sutilezas em sua atuação. O personagem nos cativa, provoca empatia imediata graças a naturalidade do talento do ator para trazer Donovan à vida. Mark Rylance (do óptimo Novo Filme Dunkirk ) faz um Rudolf Abel que não se permite em momento algum sair da personagem ambígua que lhe é proposta, ocasionando uma performance magistral, à prova de qualquer aforismo sentimental que pudesse atrapalhá- lo em seu trabalho, sem deixar de lado um comportamento espirituoso e muito carismático. O trabalho de cores, em que predominam o cinza e o grafite, salienta a dubiedade do caráter geral do mundo. Ponte dos Espiões levanta uma questão muito importante: a necessidade de se fazer a coisa certa, mesmo sabendo que isso vai contra interesses políticos ou de algum grupo dominante. A história aqui contada é baseada em fatos reais, mas remete também ao caso recente do ex-administrador de sistemas da CIA que denunciou o esquema de espionagem do governo americano em 2013 e foi tratado como um traidor, mesmo que tenha tido a atitude correta. É uma crítica clara à hipocrisia norte-americana, que trabalha sempre com dois pesos e duas medidas em se tratando de assuntos como esse.

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