segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Crítica - A Travessia (2015)

Título: A Travessia ("The Walk", EUA, 2015)
Diretor: Robert Zemeckis
Atores principais: Joseph Gordon-Levitt, Charlotte Le Bon, Ben Kingsley
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=Tra7otLWtQ8
Nota: 7,0
Incrível história que deve ser vista nos cinemas e em 3D

As Torres Gêmeas de Nova York acabam de ser inauguradas (ou melhor, embora já em funcionamento, parte da segunda torre ainda nem foi finalizada). O que você pensaria sobre um maluco que resolvesse atravessar os dois prédios andando sem nenhuma proteção por um fio de arame pendurado entre eles? E mais, esta seria uma ação ilegal, claro. Além de ferir vários artigos da lei, as Torres possuem um sistema de segurança e monitoramento consideravelmente forte, o que torna a tarefa muito mais difícil de ser feita. Alguém conseguiria realizar tal façanha?

Pois então. Por mais absurda que seja a última pergunta acima, a resposta é que em 1974 o artista Philippe Petit protagonizou o feito. Foi o primeiro e único homem a se equilibrar entre as famosas Torres. E é a história desta realização que vemos em A Travessia.

Embora seja focado na vida do personagem de Philippe Petit (interpretado por Joseph Gordon-Levitt), a história se concentra quase em sua totalidade na ação que culminou nesta famosa travessia. Para realizar a caminhada, Petit contou um número razoável de ajudantes, dos quais no filme apenas se destacam a cantora e namorada Annie (Charlotte Le Bon) e o também artista equilibrista e seu mentor Papa Rudy (Ben Kingsley).

Contada em um ritmo acelerado, não tem como uma história tão incrível como esta ficar desinteressante. Portanto, assistir A Travessia é sem dúvida uma experiência bastante agradável. Entretanto, o desenvolvimento da trama poderia ser melhor. Narrado em primeira pessoa, cenas de um Petit "após a travessia" em cima da Estátua da Liberdade são inseridas várias vezes ao longo da projeção, quebrando o ritmo do filme. Esta escolha também joga contra no sentido em que sabemos desde o primeiro momento que "tudo vai dar bem no final", diminuindo a tensão. Além disto, o desenvolvimento de qualquer outro personagem a não ser o do Phillippe e sua obsessão pelo seu sonho de travessia é solenemente ignorado.

O diretor Robert Zemeckis (da trilogia De Volta Para o Futuro) prometera para A Travessia uma revolução visual. Uma sensação de "estar acima das Torres" como nunca se vira antes. De fato, o filme é ótimo neste sentido, sua grande qualidade. As tomadas são filmadas com grande número de ângulos e variações. Temos cenas onde observamos Philippe de baixo pra cima, de cima pra baixo, com zoons e movimentos de câmeras diversos. A computação gráfica que envolve as cenas acima da Torre são simplesmente impecáveis. Perfeitas.

Infelizmente, apesar de tanto primor técnico, pelo menos eu não consegui me sentir "realmente" em cima dos prédios, conforme prometido. Talvez pelo fato de eu não estar em um cinema IMAX 3D (aonde esta sensação foi prometida). Mesmo assim, estive em um bom cinema 3D, e aviso: A Travessia é um filme que vale bastante a pena em ser assistido em 3 dimensões. Não temos aqui "objetos jogados na cara do espectador", ou ainda, planos muito longos onde seja possível explorar uma enorme noção de profundidade. Mas mesmo assim, a sensação de 3D está presente no filme todo. Muito admirável! E mais ainda, se eu não me senti literalmente "lá em cima", foi quase. Foram vários minutos de angústia e arrepios observando Petit pendurado sob as Torres. E sim, o francês ficou um tempão lá em cima sob os fios - assistam o filme para entender porque.

Em termos de atuações, Joseph Gordon-Levitt continua impressionando. Americano, ele fala com um sotaque francês que convence na maioria das cenas. Levitt não é fisicamente parecido com Philippe Petit, nem com seus trejeitos. Mas mesmo assim, convence como artista equilibrista (ele aprendeu a andar sob cordas durante as filmagens tendo aulas com o verdadeiro Philippe) e principalmente, convence na atuação, demonstrando de forma crível as emoções sentidas pelo personagem.

A Travessia é uma história interessante, que exemplifica bem o espírito de coragem, força e destemor do ser humano. Também dá cutucadas bacanas afirmando sobre o que é ser um "verdadeiro" artista. É uma aventura que deveria ser conhecida por todos e - principalmente - da maneira em que o filme foi feito, só faz verdadeiramente sentido vê-lo nos cinemas. E em 3D. Nota 7,0.


PS 1: se não "revolucionou", pelo menos o realismo visual de A Travessia impressionou. E a Sony aproveitou para promover seu filme utilizando esta tecnologia. Nestes vídeos podemos ver a bacana promoção feita nos EUA e até aqui no Brasil.

PS 2A Travessia é a mesma história contada pelo documentário O Equilibrista (2008), grande vencedor do Oscar de Melhor Documentário de 2009. Para quem gostou da história de Philippe Petit, eis uma grande oportunidade de se aprofundar no assunto, assistindo outro filme sob formato completamente diferente.

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