quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Crítica - O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos (2014)

TítuloO Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos ("The Hobbit: The Battle of the Five Armies", EUA / Nova Zelândia, 2014)
DiretorPeter Jackson
Atores principaisIan McKellen, Martin Freeman, Richard Armitage, Orlando Bloom, Evangeline Lilly, Luke Evans, Aidan Turner

Peter Jackson deixou o pior para o fim

Após três longos anos, eis que se encerra a trilogia Hobbit. Uma trilogia que conta a história de uma grande ganância. Não da ganância do anão Thorin, que conhecemos lendo o livro de Tolkien de mesmo nome; e sim, da ganância de Peter Jackson e da Warner Bros., em transformar uma história que caberia em apenas um filme (ou em dois, vai...), em três enormes caça-niqueis.

Se o grande pecado dos filmes anteriores de Hobbit foi acrescentar e inventar muita coisa desnecessária, em O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos este defeito é maior do que nunca. Restando menos de 15% do livro O Hobbit para se contar no 3o filme, não é surpresa que aqui o roteiro praticamente inexiste. Alguns poucos diálogos, pouca história. E batalhas. Batalhas, batalhas e mais batalhas.

É triste constatar que toda aquela saga paralela (que não consta nos livros) de Gandalf e Radagast enfrentando Sauron é resolvida neste filme de maneira abrupta: tudo termina em 5 minutos. Ou seja, até o único ponto "extra livro Hobbit" que poderia acrescentar algo à trama, falha.

E por falar em "abrupto", lembram que o 2o filme também termina subitamente, se encerrando imediatamente antes do dragão Smaug atacar a aldeia humana? Pois é. Isto também é resolvido muito muito rapidamente em O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos, o que me faz concluir que este desfecho deveria estar no filme anterior, e não aqui. Aliás, a batalha contra Smaug é decepcionante: o dragão aparece pouco, apenas à longas distâncias, e as imagens são demasiadamente saturadas de vermelho, dando um clima muito artificial ao que estamos assistindo.

Ah, já que o filme é só luta e batalhas, estas partes são boas, não? Não necessariamente. Há algumas lutas "mano-a-mano" que são bem feitas e agradam bastante. Este é o primeiro ponto positivo que posso falar de O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos. Mas é só... as batalhas "em grupo" são muito exageradas... Testemunhamos muitas cenas absurdas, como por exemplo, uma criança sacar uma espada e com um só golpe matar Orcs vestidos de armadura completa. Ou então, um anão nocautear vários Orcs com o triplo de seu tamanho dando cabeçadas. Aliás, haja Orcs vestindo armadura completa neste filme... porém basta acertá-los com um golpe - qualquer golpe - que eles caem mortos. O ferreiro que criou estas armaduras faz da ACME a empresa mais confiável do mundo...

E o que falar sobre o Legolas? Tudo o que ele faz nas batalhas é tão impossível, tão exagerado, que Peter Jackson foi obrigado a inserí-lo via computação gráfica... e bem mal feita. Fica muito claro que ele é uma animação, não um ator.

Mas o filme também tem alguns pontos positivos. Há algumas poucas cenas bonitas, sentimentais, que comovem. Notem que nem todas as cenas "emotivas" funcionam. Apenas aquelas cujos personagens nos importamos, basicamente Gandalf (Ian McKellen), Thorin (Richard Armitage) e Bilbo (Martin Freeman). Nem mesmo as cenas com Bard (Luke Evans) e Tauriel (Evangeline Lilly) convencem muito. Pelo menos dá para dizer do quinteto que acabo de citar que eles atuam bem, e são principalmente quem dão credibilidade ao filme.

A trilha sonora é mais uma vez elogiável, bonita, entretanto, com os dois poréns de que também mais uma vez ela é muito parecida com a dos filmes anteriores, e de que é utilizada em excesso, prejudicando a narrativa.

Os demais pontos positivos de Hobbit 3 são visuais. O figurino, os cenários, as paisagens, tudo incrivelmente perfeito, deslumbrante, irretocável (ah, o mesmo pode se dizer da Tauriel). Se no Senhor dos Anéis maquiagens e vestimentas já impressionavam pelo realismo, aqui elas são ainda melhores.

Aliás, Peter Jackson abusa dos planos longos, do filmar à longa distância, dando destaque às belas paisagens e ao palácio dentro da montanha. Há várias cenas aéreas onde os personagens ficam minúsculos ao meio de tanta grandeza. É como se ele mostrasse que a ambientação do universo de Tolkien fosse maior que suas histórias ou personagens. E muito infelizmente, em Hobbit 3 ela é. Por outro lado, esta maneira de filmar permitiu bons efeitos 3D, portanto, vale a pena assistir o filme neste formato.

Sendo de longe o pior dos seis filmes filmados por Peter Jackson dentro do universo de Tolkien, O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos finaliza a trilogia Hobbit de maneira bem insatisfatória. Se na conclusão da trilogia do Senhor dos Anéis o sentimento que prevaleceu foi um misto de satisfação e saudosismo (afinal, aquela bela obra acabara), o sentimento final para a trilogia Hobbit é apenas de alívio. Um alívio de que não irei mais gastar meu tempo com algo tão comercial e sem conteúdo. Nota 5,0.

PS: parabéns a Peter Jackson pela façanha de superar George Lucas ao criar um personagem mais inútil e chato que Jar Jar Binks em Star Wars. Trata-se do lacaio Alfrid, interpretado pelo ator Ryan Gage.

PS 2: fechei a trilogia assistindo Hobbit 1 e Hobbit 3 a 48 fps (ou se preferir, em HFR), e fiquei feliz ao constatar que Peter Jackson evoluiu no uso desta tecnologia a cada filme. Aquela sensação de "velocidade acelerada", que descrevi quando assisti o 48 fps pela primeira vez acontece em raros e breves momentos. Se critico o diretor Neozelandês pela atrocidade que foi adaptar Hobbit em três filmes, tenho que elogiá-lo por trazer o 48 fps "de volta" para o cinema. É um aspecto técnico que no futuro, quem sabe, poderá causar uma pequena revolução. E os méritos serão de Peter Jackson, claro.

4 comentários:

marcos.moreti disse...

Vamos lá, meu amigo, ponderações sobre O Hobbit - a batalha dos cinco exércitos: como obra cinematográfica isolada, o filme tem sérios problemas de narrativa.
Concordo plenamente com vc que, a saga do dragão, se era para ter o desfecho que teve deveria ter ficado no final do segundo filme. Desta forma, o segundo filme teria sido mais satisfatório e sua história teria ficado mais completa. Entretanto, eu gostei da resolução, embora pensando na continuidade temos um elemento que é apresentado com muita importância no segundo filme e é esquecido neste. Parece ter sido uma falha e não um despiste, talvez na versão estendida vejamos pelo menos uma frase para amarrar esta questão, mas não é desculpa para a obra entregue no cinema.

Sobre o arco do conselho branco: na minha opinião um dos pontos altos do filme, e resolvido rapidamente. Com nerd mode on é fantástico ver tantos personagens de level 10 agindo em conjunto...rs Ao mesmo tempo, torna mais crível a amarração com A Sociedade do Anel, descobrimos como alguns personagens ficaram em seus devidos lugares.

Voltando à saga principal do filme, enquanto o primeiro filme tinha um problema claro de ritmo, que foi se corrigindo no segundo, o terceiro é frenético. As pausas são curtas e não me lembro de momentos inúteis, como temos muito no segundo filme. Ao mesmo tempo, o sr. Peter Jackson arrumou a história ao não deixar nosso Hobbit desacordado quase a luta toda como no livro. A preparação e explicação para a batalha são muito bem feitas, e convencem, assim como o arco de queda e redenção de um personagem. A batalha em si tem momentos muito bons, nos apresentando ao modo de luta anão e seu contraste com os elfos (o que me deixa mais triste ainda com o momento do segundo filme em que o Legolas sai na porrada com o super-orc). Neste momento, somos tirados da visão da batalha para a estratégia de cortar o mal pela raiz, ou um ataque pelo seu comando e vamos para lutas individuais. Como sempre, temos momentos épicos com Legolas (e sim, tem oras que é mais claro o CGI) e lutas inacabáveis... Enquanto os orcs de exército são facilmente derrotados com pedradas ou cabeçadas de anões (isso eu achei massa, anão que é anão não precisa nem de capacete...rs), seus comandantes são guerreiros quase Highlanders. Em um determinado momento, quando quase aplaudimos uma solução para a luta utilizando o ambiente do combate e inteligência, sabe-se lá como o roteiro ignora as leis da física e joga isso fora para darmos um encerramento para um personagem. Não precisava. Poderia ter acontecido de outro jeito, talvez mesmo salvando nosso amigo Bilbo.

Já o final, este eu considero que o sr. PJ soube fazer perfeitamente, e a vontade quando o filme termina é emendar com a Sociedade do Anel.
Visualmente o filme é muito bonito e sim, os 48 fps fazem muita diferença e o diretor melhorou muito seu uso no final da saga.
Darei duas notas, como obra isolada concordo com seus 5,0. Como encerramento da história do Hobbit e ligação com Senhor dos Anéis, deu um show no sr. George Lucas, 7,5.

P.S.: Muito injusto comparar o Alfrid com o Jar Jar. Enquanto o primeiro só serve para auxílio cômico e tem participação mínima, o Jar Jar é parte decisiva da trilogia dos anos 2000 de Star Wars, com muito mais tempo de tela.

Ivan disse...

Olá Moreti, mais uma vez obrigado pelo ibope, e por comentar com tanto afinco. :)

Irei comentar alguns dos pontos que você escreveu.

O arco do Conselho Branco é mesmo um dos pontos altos do filme. Embora ele comece mal (um ork "do nada" resolve matar o Gandalf), toda a sequencia de luta é empolgante e visualmente muito bonita. Minha única crítica, que repito aqui, é que após 2 filmes "preparando o terreno" para esta batalha, quando ela acontece, ela é curta, abrupta.

Sobre a "grande batalha dos 5 exércitos", ela tem sim alguns bons momentos, mas estão diluídos em meio ha tantas cenas encheção de linguiça. Quanto ao seu "Ao mesmo tempo, o sr. Peter Jackson arrumou a história ao não deixar nosso Hobbit desacordado quase a luta toda como no livro.", não vi nenhum mérito nisto. O Bilbo fica acordado? Até fica. Mas mal aparece em cena no filme todo. A trilogia se chama HOBBIT, mas o hobbit da mesma mal aparece no 3o filme.

Fico feliz q vc também tenha visto em 48 fps, é mesmo muito bonito. E sim, gostei do desfecho do filme, isto Peter Jackson fez bem.

Abraços!

Unknown disse...

Meu caro Ivan, graças a você consegui achar agradável a incrível obra de Peter Jackson. Após ver sua nota 5,0 e todos os outros comentários na internet fui assistir com uma expectativa baixíssima e por isso consegui me entreter com os pontos positivos que você comentou.

Guerras, exércitos imensos, trombetas magníficas, fortalezas gigantes e Légolas com suas lutas irreais, Peter Jackson tentou oferecer tudo que os fãs da trilogia Senhor dos Anéis mais admiravam. Mas pagou caro por isso (na verdade nós é que pagamos e ele faturou muito), foi necessário se desprender quase que completamente da história original de Tolkien (que deve ter se remexido muito em seu caixão) que, como você disse, sobrou apenas 15% do livro neste último filme.

A três ou quatro anos atrás, quando foi anunciado que teríamos uma trilogia para Hobbit, já imaginava todos estes problemas. Como fazer três filmes de um único livro? Com muita boa vontade o máximo que poderíamos dividir a obra seria em dois momentos, uma primeira parte seria a viagem da comitiva até a montanha solitária e, uma segunda parte, a partir da infiltração na montanha e o econtro com Smaug.

Abraço.
P.S.: Não entendi a admiração do Cardinho por anões kkkkkk.

Ivan disse...

Gerson Roberto! Que honra! Fico feliz que vc tenha gostado, não tive esta sorte. Continue lendo e comentando no meu blog :)

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