quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Crítica - O Destino de Júpiter (2015)

TítuloO Destino de Júpiter ("Jupiter Ascending", EUA / Reino Unido, 2015)
Diretores: Andy Wachowski e Lana Wachowski
Atores principais: Mila Kunis, Channing Tatum, Sean Bean, Eddie Redmayne, Douglas Booth, Tuppence Middleton
Trailerhttps://www.youtube.com/watch?v=KY96kILEt7s
Nota: 4,0



A megalomania dos irmãos Wachowski

Era o longínquo ano de 1999. E ao assistir Matrix nos cinemas fiquei bastante impressionado. Um filmaço que mudou os cinemas, não apenas pelas cenas de ação em câmera super-lenta (que passou a ser imitada por muitos, posteriormente), mas principalmente por ter resgatado do limbo os temas de ficção científica e o visual Cyberpunk.

Minha admiração por esta obra dos Wachowski era tamanha que, mesmo apesar dos fracos Matrix 2 e Matrix 3 (2003), e do horroroso Speed Racer (2008) eu ainda torcia muito para eles voltarem a fazer algo decente. Em 2012 veio A Viagem, que recebi com felicidade e alívio, pois mesmo não se comparando ao primeiro Matrix, enfim era um filme muito bom. Será que os Wachowski teriam retornado ao "bom caminho"?

Quando seu trabalho seguinte, O Destino de Júpiter, foi anunciado, eu sabia que teria minha resposta. E continuava torcendo firmemente por eles. Então vieram as más notícias: primeiro, o vídeo teaser, que me fez torcer o nariz. Não vi história nenhuma ali, apenas efeitos especiais sem sentido. Mas o pior ainda estava por vir: a entrevista que eles deram para o site Omelete poucos dias antes do filme estrear no Brasil (o link original está aqui).

Os Wachowski saem atirando para todo lado, mas, em resumo, fizeram duas críticas: 1) o cinema atual não faz mais nada original, simplesmente adapta livros, fazendo com que a magia da incerteza se acabe: "Eu li esse livro, eu sei o que acontece" - diz Lana. 2) os filmes de super-herói, segundo eles, são infantis, sem roteiro, apenas servem para fazer dinheiro. Mais ainda, são "sempre a mesma coisa", os personagens não tem profundidade... é sempre o "bem versus mal".

Certo. Quanto à primeira crítica, eu concordo... é mesmo triste este cenário atual dos cinemas. Mas ao mesmo tempo, ressalto que o ato de fazer só adaptações, por si só, não impede que filmes bons sejam feitos.

Já sobre a segunda afirmação dos Wachowski... bem, meus caros... Eu acabo de assistir O Destino de Júpiter. É um filme onde o extraterrestre-lobisomem voador Caine Wise (Channing Tatum) tenta salvar a indefesa terráquea Júpiter Jones (Mila Kunis) do vilão malvado Balem Abrasax (Eddie Redmayne) que quer exterminar a humanidade. Eu gostaria de saber no que isto se difere de filmes de super-herói!

O roteiro é fraquíssimo, a história é longa, chata, repleta de clichês e diálogos constrangedores. E é o tal "bem versus mal" mais puro e mais mal feito que existe.

O Destino de Júpiter é basicamente composto de cenas de ação, repletas de efeitos especiais. Todas estas cenas, sem nenhuma exceção, possuem tantos efeitos computadorizados, tantas explosões, tanta velocidade, tanta coisa se mexendo ao mesmo tempo, que como resultado final... você não entende o que está acontecendo.

O "mocinho" está brigando com um "monstro", a câmera pula para todo quanto é lado, e o "monstro" cai desacordado no chão. Você tem a ILUSÃO de que viu o que aconteceu. Mas não viu. Como o "vilão" foi nocauteado? Foi chute, soco, tiro, queda de pressão? Ninguém sabe. Esta "agressão visual" não é uma novidade, entretanto. Ela também está presente em obras igualmente "geniais" como Armageddon, Transformers 2 e Transformers 3.

Há apenas uma coisa boa em O Destino de Júpiter: seu visual. A fotografia é muito boa, mas em especial, as cenas no espaço são belíssimas, bastante impressionantes.

Já a mitologia criada pelos Wachowski neste filme... é razoavelmente interessante. Tem idéias legais, mas ao mesmo tempo possui algumas falhas de lógica. Além disto, de original, não tem muita coisa... é uma mistura de Cinderela com Matrix com Star Wars.

Até em seu ritmo o filme falha. Sim, no fundo ele é ultra acelerado do começo ao fim, porém, seguindo a megalomania dos diretores, toda batalha do filme é "épica", com direito a ópera como trilha sonora. O resultado, o filme tem uns 50 clímax, que na prática, se anulam tornando-se nenhum.

Os Wachowski gastaram para fazer O Destino de Júpiter cerca de 180 milhões de dólares (sem contar as várias dezenas de milhões gastos em propaganda) e até agora, no momento que escrevo este texto, sua arrecadação mundial não chegou na marca dos 120 milhões. Um grande fracasso. Talvez a única solução restante para os irmãos seja trabalhar com orçamentos modestos, para que - quem sabe? - eles possam voltar a focar no roteiro. Porque enquanto estiverem fazendo estes filmes de grande orçamento vão continuar a se travestir de gênios porém dirigindo como um Michael Bay. Nota: 4,0


PS 1: eu comentei em meu post anterior que o crítico Rubens Ewald Filho disse que a atuação de Eddie Redmayne neste filme é "uma das piores atuações da história do Cinema". Bem, agora posso dizer que não concordo. Redmayne atua bem alias, porém deixo a ressalva que sua opção por falar "sussurrando" ficou cansativo e artificial.

PS 2: há apenas uma coisa REALMENTE original neste filme dos Wachowski: fizeram filme em que  o personagem de Sean Bean não morre. Incrível!

PS 3: minha última alfinetada nos Wachowski: com que moral alguém que fez Matrix 2 e 3 vem a público reclamar que hoje o cinema só se preocupa com dinheiro?

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